quinta-feira, 14 de maio de 2009

Primeira condução em Angola

Ter tirado a carta na cidade do Porto, contribuiu certamente para aquirir logo à partida um maior nível de desenrascanço a conduzir, já que fiquei bastante habituado a conduzir com muito movimento, a saber lidar com filas de espera, a ouvir buzinadelas para avançar ainda antes de os semáforos mudarem para verde, etc... E se eu considerava que algumas aulas eram equivalentes a conduzir numa selva, tal não era a quantidade de manobras proibidas, perigosas e não sinalizadas que via, conduzir em Luanda é exponencialmente pior...

Depois de ter tirado a carta de condução no Porto, ter feito várias viagens no IP5, uma estrada até à bem pouco tempo considerada uma das mais perigosas e mortais em Portugal, ter conduzido em Lisboa já algumas vezes, acho que conduzir em Luanda pode ser bem mais divertido e também mais stressante, dependendo da situação...

É claro que passar montes de tempo parado em filas, não conseguir arranjar para estacionar, passar em algumas zonas consideradas mais perigosas, ter os típicos arrumadores em muitos sítios são alguns dos problemas mais comuns que tornam a condução chata e stressante...
Mas por outro lado, a flexibilidade que esta gente arranja a conduzir é impressionante, senão vejamos: criam-se novas faixas onde elas não existem, estaciona-se em terceira fila se for preciso, o sentido das faixas varia com grande dinamismo e de acordo com a necessidade, circula-se pela berma e às vezes até pelo passeio, não é obrigatório seguro automóvel, os toques existentes nem obrigam a paragens e discussões, tudo com bastante sentido prático... Portanto, comforme se pode ver, há muitas vantagens na condução local!

Além disso, há que considerar também a parte de evitar os maiores buracos existentes nas estradas, bem como evitar os restantes condutores que não respeitam sinais, regras de prioridade e até os restantes condutores... É giro, parece que se está a andar de carrinhos de choque, mas a pista é a cidade inteira! Quero ver como vai ser para uma pessoa se voltar a habituar a conduzir "normalmente" em Portugal...

Estou a introduzir este tema, já que na segunda-feira passada tive a minha primeira experiência de condução em território considerado hostil no que à condução diz respeito... Estou, naturalmente, a falar da primeira vez que tive de conduzir em Luanda, uma cidade completamente sobrelotada e com um trânsito absolutamente caótico...

O Paulo (motorista) estava-se a cortar a ir levar-me e ao Teodoro ao Jango Veleiro, local do jantar de aniversário da Carolina... Como tal, para nem haver mais chatices e para não ficarmos eventualmente pendurados sem motorista depois, lá aceitei ficar com o carro, ir a conduzir para o restaurante e depois ficar com o carro até ao dia seguinte.

Bem, devo dizer que a primeira vez que conduzi cá ia-se tornando um bocado traumática... Estava a correr tudo bem e sem o mínimo vestígio de problema até que, mesmo quando estavamos já pertíssimo do restaurante, desaparecemos dentro de uma autêntica cratera... A estrada em frente ao Náutico é recorrente no que diz respeito a ficar completamente inundada à mínima chuvada, pelo que ainda havia uma autêntica piscina na zona devido à chuva do sábado.

Ao chegar a este ponto, foi logo parar, engatar a primeira mudança e avançar devagarinho, já que sabia perfeitamente que algures ali havia um buraco gigantesco... O pior mesmo era saber que era algures ali, mas saber a sua localização exacta era impossível já que a água não o deixava vislumbrar... Então não é que estou a desviar-me devagarinho para o meio da estrada, para o tentar evitar e fazer com que o buraco passasse por baixo do carro e entre as rodas, e me fui enfiar exactamente no local errado? Só senti a roda a escorregar lá para dentro, aquilo tudo a arrastar em baixo e o carro a aninhar-se naquela cratera... Ops... Nada de entrar em pânico!

Quatro piscas ligados, tentar arrancar suavemente e nada... Nem mexeu! Mau, não está fácil isto... Aumentar a rotação acelerando, aumentar, aumentar, começar a sentir o carro a patinar e água a saltar das rodas e... Nada! Hora de começar a entrar um bocadinho em pânico... Como se costuma dizer, quando a coisa não vai a bem, muitas vezes vai a mal... O plano B foi mesmo à bruta: mudar para a marchar atrás, ver se não havia ninguém atrás e vá de recuar à doida para voltar à "superfície"! Felizmente desta vez correu bem e não tivemos problemas de maior, nem para chegar finalmente ao restaurante nem depois para voltar a casa...

E agora perguntam vocês pelo estado em que ficou o carro depois desta aventura... Bem, devo dizer que se isto me tivesse acontecido com o meu Auris, ia-me doer tudo até à alma... Mas felizmente, os carros que circulam em Angola são autênticas máquinas de guerra e este fantástico Nissan Sunny não foge à regra! Um ou outro arranhão pequeno, no sítio onde arrastou ao entrar para a cratera e pronto, na mesma! Sempre pronto a andar!

E já agora, aqui fica uma imagem caricata de uma situação que vi hoje de manhã enquanto tomava café no terraço da ENSA... Só foi pena que, enquanto fui a correr buscar a máquina fotográfica, a situação tivesse ficado "resolvida", à boa maneira do desenrascanço angolano... Uma candonga perdeu (literalmente) a porta de correr lateral em plena marginal e qual foi a fantástica solução adoptada depois da tentativa falhada de voltar a encaixar porta? Pois bem, duas pessoas, uma em cada extremidade da porta, a segurar... Espectáculo! :)

1 comentário:

Anónimo disse...

Grande história Daniel...Pela tua descrição até me assusto ao pensar no tamanho do buranco onde meteste o carro...
Para a proxima tens que pedir a Delloite um Hummer para andares nessas ruas...
1 grande abraço