domingo, 14 de junho de 2009

Férias no Gerês

Aproveitando uma semana com dois feriados e gastando apenas três dias de férias, a segunda semana de Junho era sem dúvida muito apetecível para se ter umas mini-férias. Combinadas à já algum tempo com o primo Jorge e com o João, as férias estavam marcadas para o Minho, mais precisamente para a zona do Gerês.

6h30 - A23, sentido Covilhã - Guarda

Já com o Auris carregado desde a véspera com tendas, sacos-cama, sacos de roupa, cobertores, colchões, uma mesa, comida e bebida e mais uma série de coisas indispensáveis a quem vai acampar, fizemo-nos à estrada de manhã cedo. Com a saída do Dominguizo prevista por volta das 6h da manhã, saímos já com praticamente meia hora de atraso... A probabilidade de não conseguir ser pontual de manhã é grande, especialmente estando de férias, portanto tive alguma culpa no atraso... Além disso, como os meus pais abalavam para França nesse dia e ainda tinham de ir para o aeroporto de Lisboa, as despedidas já habituais com algumas lágrimas de parte a parte causaram ainda mais atraso... Estava já eu a chegar a todo o gás a casa do meu primo, quando os vejo a andar a pé para irem ter comigo... Vá lá que o meu primo percebeu que eu estava atrasado e tratou de minimizar o atraso indo buscar o João à aldeia vizinha.

Campo do Gerês

A viagem decorreu toda ela com bastante normalidade, com uma paragem já depois do Porto para beber café, ir à casa de banho e esticar um bocado as pernas... O pior mesmo foi a chuva que, depois das várias ameaças e tentativas durante a viagem até ao momento, teimou em aparecer de vez e tornar o dia num autêntico dia de Inverno... Ainda por cima, começou a chover a sério na pior parte da viagem, logo a seguir a Braga, numa estrada nacional que ninguém conhecia e cheia de curvas e contra-curvas com é típico das estradas montanhosas... Estava a começar mal o primeiro dia!

Uma vez chegados à pacata aldeia do Campo do Gerês, foi relativamente fácil descobrir o parque de campismo. Chovia bastante e a ideia de descarregar o carro, montar tendas e acampar durante uma semana inteira com um temporal daqueles não era de todo uma situação agradável... Sabíamos que o parque de campismo tinha também vários bungalows e camaratas para alugar, pelo que tratámos de saber se havia possibilidades de alugar um desses espaços enquanto o tempo continuásse mau...

Bungalows só havia um disponível, um T2, e o aluguer por noite ficava bastante caro. A senhora da recepção lá nos acompanhou para vermos as camaratas e o que vimos deixou-nos convencidos, já que a camarata até era bastante agradável e espaçosa, com quatro beliches e ainda por cima até ao momento íamos ficar apenas os três a ocupá-la. Seria praticamente a mesma coisa que ficar num bungalow, pagando menos e tendo a consciência de que poderia chegar mais alguém entretanto.

Três malucos: João, eu e Jorge

Uma vez instalados e face às más condições climatéricas, optamos por uma pequena volta pela aldeia do Campo do Gerês para começar. Uma aldeia praticamente deserta, onde as muito poucas pessoas que se viam pelas ruas eram pessoas já idosas, que viviam a sua reforma numa pacatez tremenda.

Lá encontrámos um café para tomar o segundo pequeno-almoço do dia e jogar uma breve matraquilhada antes de continuar à descoberta da aldeia. É curioso que esta foi a única vez em que vimos o café aberto... Não sei qual seria a hora de fecho mas, de todas as restantes vezes em que tentámos ir lá, sempre ao final da tarde ou início de noite, nunca mais o encontrámos aberto... Pudera, se eu fosse dono do café faria certamente o mesmo... Num sítio em que nada se passava à noite, provavelmente nem seria rentável manter aquilo aberto e mais valia ir para casa dormir...

Cascata de Leonte

Depois desse café e na continuação da actividade de descobrir a aldeia, em que muitas das ruas são de trânsito proibido e condicionado a residentes, acabámos por nos refugiar da chuva e entrar noutro tasco... Por sugestão da dona do café, bebemos uma jeropiga e acabámos por trocar uns dedos de conversa, na qual ficámos a saber que há imensa gente na zona que aluga casas a turistas. É um caso a considerar no futuro e até pode ser uma boa possibilidade de férias, especialmente se for com um grupo de pessoas maior.

Entretanto começou a chegar a hora de almoço, pelo que seria necessário ir às compras... Lá fomos nós em direcção a Terras de Bouro, uma pequena vila sede de concelho, comprar o necessário para o almoço que seria à base de carne grelhada. Os locais existentes no parque de campismo apropriados para fazer grelhados felizmente tinham um pequeno telheiro, pelo que a chuva era coisa que incomodava pouco na altura de comer... E a fome já era tanta na altura face ao adiantar da hora, que foi comer logo ali e pronto! Ainda soube melhor!

Apesar do mau tempo, não estávamos ali para ficar parados no parque de campismo, portanto rapidamente tratámos de partir de carro à descoberta das aldeias vizinhas, parando imensas vezes ao longo do caminho para admirar e tirar fotografias às magníficas paisagens naturais da zona. Chega a ser impressionante a imensa quantidade de vegetação existente, tudo sempre muito verde, com água abundante em rios, ribeiros e pequenas quedas de água... Onde quer que uma pessoa fosse, estas características estavam sempre presentes!

É verdade que o clima habitualmente mais húmido do Douro Litoral e Minho relativamente ao resto do país proporcionam características naturais como estas e não é à toa que o Minho é muito conhecido pela sua imensa verdura, mas nunca pensei que existissem tantos sítios onde mesmo em pleno dia não se conseguisse ver o sol. Mesmo nos locais que já foram mais manipulados pelas pessoas, por exemplo, chega a haver alturas de grande penumbra mesmo! Parece que se está a entrar num túnel natural, onde a luz do dia é completamente filtrada pela vegetação circundante!

Mata Nacional - Parque Nacional da Peneda - Gerês

Um dos locais por onde gostei mais de passar foi numa zona de acesso condicionado do Parque Nacional. Depois de uma pequena voltinha a pé pela vila do Gerês, decidimos continuar de carro pela estrada estreita que subia com uma inclinação já considerável em direcção a Espanha...

Fiquei admirado quando cheguei a uma zona que começou a ter placas a indicar acesso condicionado alguns quilómetros à frente e achei aquilo um bocado exagero, que seria apenas algo informativo de uma zona um bocado mais restrita do Parque Nacional e eventualmente mais patrulhada que as restantes áreas... Qual não foi o meu espanto, quando cheguei ao cimo do monte e me aparece uma senhora bem agasalhada do frio com um sinal de stop na mão! Aquilo que eu julguei inicialmente como sendo treta era de facto para levar em conta, já que se tratava de um pequeno posto equivalente a uma portagem. Íamos atravessar uma zona do Parque Nacional de acesso condicionado, sujeito ao pagamento de uma taxa, e com regras de circulação próprias, tais como não poder circular a mais de 40 km/h, não poder parar nem estacionar...

Como é óbvio, as regras existem para se cumprir mas nem tudo pode ser levado à letra... Então com paisagens brutais e não se podia parar para tirar uma fotografia sequer? Nem pensar nisso! Fomos parando várias vezes ao longo do percurso até que, quase na saída da zona de acesso condicionado, nos aparece um jipe da Guarda Florestal, que fez questão de nos relembrar que não podíamos parar naquele sítio e de nos perguntar se íamos demorar muito.

Pode parecer excessivo, mas em certa parte acabo por concordar totalmente com um controlo apertado. É abrindo excepções a algumas pessoas julgando que elas têm a melhor das intenções que depois surgem coisas terríveis para a natureza como os incêndios florestais e afins... E seria de facto uma pena que isso acontecesse numa zona tão bonita e única em Portugal, portanto acho muito bem que tal controlo aconteça.

Barragem de Vilarinho da Furna

Quando acordámos na quinta-feira de manhã, o contraste com os dias anteriores era enorme. Tal como estava previsto pelos senhores da metereologia, o bom tempo característico da altura que antecede o Verão estava de regresso: um dia de sol lindo, quente e felizmente sem o menor vestígio das chuvadas dos últimos dias ou algo que apontásse para mau tempo novamente...

Foi apenas o tempo de se arrumar tudo na camarata, tomar o pequeno-almoço, passar pela recepção a avisar que tinha sido a última noite na camarata e que iríamos montar tenda nesse dia e estávamos prontos para uma bela caminhada. Ah, falta o pormenor importante de ir também às compras para levar comida para o almoço, até porque caminhar pela natureza acaba por abrir ainda mais o apetite!

Saindo do parque de campismo de mochila às costas, o objectivo era explorar um pouco os vários percursos pedestres que vimos assinalados no mapa e bem indicados mesmo para quem anda a pé. Sempre com a barragem de Vilarinho da Furna em pano de fundo, dirigimo-nos ao local de acesso a uma antiga Via Romana e embrenhámo-nos nos trilhos outrora muito percorridos e que hoje em dia apenas servem para belos passeios.

No entanto, em alguns locais, são ainda muito visíveis os traços da passagem romana na zona, desde pedras com inscrições em latim, pequenas pontes, zonas de calçada cobertas de vegetação rasteira e muito musgo... Para não fugir à regra, quase todo este percurso é feito sempre com muita vegetação, água e sombra em redor, claro!

Via Romana

Uma coisa que achei estranha nestes cinco dias de férias foi o facto de ver várias vezes animais "abandonados", principalmente cavalos e vacas... Como é evidente, estes animais têm dono e não andam propriamente perdidos nem abandonados, mas gozam de uma liberdade fora do normal, já que são deixaos por ali à solta a alimentarem-se da imensa vegetação existente.

É um conceito um bocado estranho e que causa alguma confusão nos dias que correm, já que qualquer coisa deixada sem qualquer vigia corre o risco de ser roubada... É claro que não é propriamente fácil roubar um cavalo ou uma vaca, mas são coisas que podem perfeitamente acontecer... Dá a sensação de que ali se ficou parado no tempo, onde tudo continua muito pacato e esquecendo um bocado todos esses problemas, como se eles não existissem.

Depois de uma caminhada de alguns quilómetros chegámos finalmente ao nosso destino principal do dia: a antiga aldeia de Vilarinho da Furna. Esta aldeia, cujo nome está na origem do nome da barragem, foi completamente submersa na altura de construção da albufeira da barragem, desalojando os seus habitantes.

Ao chegarmos ao local onde outrora foi a aldeia, deparámo-nos com um conjunto de pessoas que ali ia praticar mergulho para observar melhor as ruínas da aldeia. Infelizmente, dado que a albufeira estava bastante cheia, não foi possível ver muitas coisas da antiga aldeia, com excepção das pedras que constituiam alguns muros e paredes de casas mais à superfície. No entanto, foi um óptimo passeio e acabou por ser naquela zona que, à sombra das árvores, decidimos almoçar e comer as sandes trazidas na mochila para diminuir o peso que ainda andava às costas.

Aldeia submersa de Vilarinho da Furna

Ruínas da aldeia de Vilarinho da Furna

Digamos que, no momento em que chegámos ao parque de campismo novamente, eu já tinha ganho a alcunha temporária de Mantorras... Tenho de ir brevemente ao médico ver o que se passa com isto, já que desde aquela primeira ida a Sangano em Novembro, nunca mais fiquei a cem por cento... A coisa foi passando e as dores foram diminuindo, pelo que nunca mais me preocupei, mas o que é certo é que basta algum exercício mais intenso e que obrigue a fazer mais esforço e as dores regressam....

No entanto, o dia ainda não tinha terminado: uma vez que já tínhamos decidido abandonar a camarata e aproveitando o regresso do bom tempo, decidimos montar as tendas nem que fosse por apenas uma noite... Como tal, e após um breve descanso, lá tivémos nós que andar a montar as duas tendas... O que vale é que a prática já começa a ser alguma e o tempo que se demora a montar a tenda é cada vez menor... Passado pouco tempo lá estavam as nossas duas "habitações" daquela noite prontas.

Dado que afinal de contas ainda só íamos a meio da tarde, ainda tínhamos tempo para mais uma caminhada de despedida da zona... Optámos por parte do mesmo percurso seguido de manhã, mas depois seguimos na direcção oposta da Via Romana que tínhamos escolhido de manhã. Foi uma caminhada igualmente porreira, debaixo de bastante calor e claramente numa óptima de explorar um bocadinho mais a zona. Acho que se eventualmente estivesse estado o tempo sempre bom, teríamos palmilhado todos os percursos indicados no mapa e inventado mais alguns.

Já no último dia, fomos ainda tirar algumas fotos da praxe antes de abalar e que tinham ficado adiadas à espera de bom tempo! Nem todas as fotos estão aqui (acho que este post até já tem fotos a mais...), mas achei engraçado deixar aqui aquela em que o João e o Jorge saltam da ponte romana e também aquela que acaba por marcar a nossa passagem pelo Parque Nacional da Peneda - Gerês.

Ponte romana

Conforme se pode ver, a foto seguinte foi tirada com o temporizador da máquina fotográfica, coisa que me obrigou a correr e recordar os problemas no joelho da véspera. É a foto que marca a despedida do Gerês mas não a despedida das férias, já que era ainda bastante cedo e estava prevista uma visita relâmpago às cidades de Braga e Guimarães antes de se regressar à Covilhã e dar as férias por terminadas. No entanto, o relato da visita a estas duas cidades fica reservado para um novo post, mais que não seja porque este é um sério candidato a ser o maior post de todo o blog... Pelo menos no que diz respeito ao número de fotos por post, sem dúvida que já é um vencedor!

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