segunda-feira, 27 de julho de 2009

Navios encalhados & Carros descapotáveis

Depois do fim de semana passado ter sido absolutamente deprimente, já tinha decidido que não iria deixar que a situação se repetisse neste último... Depois de uma primeira tentativa em reservar bungalows para a noite de sábado em Sangano, tratei rapidamente de arranjar uma alternativa e a ideia de ir à praia dos navios encalhados e à Barra do Dande começou a ganhar forma.

Depois das várias fotos que vi desses locais, tinha de facto alguma curiosidade em conhecer estes dois sítios novos. Como tal, nem mesmo o facto de afinal se terem conseguido reservar bungalows em Sangano, me demoveu da ideia... Começou-se a formar um grupinho com vontade de ir a qualquer lado no fim de semana, sem que isso implicasse ter que ficar a dormir fora, o que fez com que a escolha da praia dos navios encalhados fosse de facto a melhor opção. Além disso, tendo em conta que, de todas as pessoas incluídas no grupo, apenas o Hugo já tinha ido lá, era sem dúvida nenhuma uma óptima oportunidade para ir visitar estes locais.

Angola - Vista da estrada do Cacuaco

Um dos piores argumentos contra este passeio é sem dúvida o trajecto percorrido: estrada do Cacuaco! Uma estrada super movimentada, com um trânsito terrível e num estado de degradação bastante avançado. Há até quem diga que só depois de se ter conduzido nesta estrada é que se sabe verdadeiramente o que é conduzir em Angola, algo com que eu até acabo por concordar. A ideia base para conduzir ali é mesmo fazer pontos de embraiagem constantes devido ao pára-arranca e ainda fazer os possíveis para evitar os buracos de maiores dimensões, ignorando os restantes... Nos casos em que isto não for possível, resta apenas escolher a melhor maneira de passar dentro do buraco evitando que a parte de baixo do carro arraste...

E a paisagem em redor da estrada também não é nada animadora ou bonita: musseque, musseque e mais musseque, tudo muito destruído, muita pobreza vísivel, crianças a brincar em redor da estrada em condições muito degradantes, pequenos lagos de água estagnada, muito lixo, candongas a abandonar a estrada e a circular pela "berma", entre muitas outras coisas... E depois, vêem-se coisas ainda mais estranhas: pessoas literalmente plantadas em sítios sem absolutamente nada em redor, como se por acaso tivessem ficado ali paradas no tempo... Um exemplo muito evidente disto foi a fotografia que conseguimos tirar ao "Deus do Cacuaco", um homem impecavelmente vestido com um fato branco perdido ali no meio de nada...

Nunca tinha ido para nenhuma zona a norte de Luanda e, por tudo o que vi, julgo que apesar de tudo o panorama consegue ser bastante melhor quando se circula em direcção a sul... O trânsito continua a ser horrível, mas pelo menos a estrada até é bastante razoável e não se vê tanta pobreza.

Angola - Deus do Cacuaco

"Deus do Cacuaco"

Após termos tido a sorte de tudo correr bem até ao momento, mesmo tendo passado numa estrada completamente esburacada, cheia de desníveis e com um trânsito infernal, com elevada probabilidade de ter um furo qualquer num pneu, de partir a suspensão ou qualquer coisa parecida, nada deixava antever que fossemos ter algum problema quando a estrada se transformou numa estrada impecável, com um pavimento excelente, pouco movimentada e rectas enormes... No entanto, não nos podemos esquecer que isto é Angola e que a frequência com que as situações mais caricatas têm acontecido aqui e neste projecto é bastante superior ao normal!

Capôt solto

Seguia eu uns metros atrás do carro conduzido pelo Nuno, quando o mais improvável aconteceu... Estava eu a encostar-me um pouco mais ao tracejado da estrada para ver se conseguia ultrapassar o carro que seguia entre os nossos dois carros e assim conseguir colar-me novamente ao carro da frente quando, de repente, desatei a rir que nem um perdido e liguei o pisca para encostar à direita... A Carina que estava ao meu lado ficou completamente à toa e deve ter pensado "Este gajo é maluco, já ri sozinho e tudo...", pelo que tratou de perguntar qual o motivo da inexplicável risota... Quando finalmente consegui parar de rir e lhe disse para olhar em frente e ver, o cenário era o carro do Nuno com o capôt completamente aberto e numa posição tal que impossibilitava ver o que quer que fosse...

Capôt preso com atacadores

Parece que ainda me estou a lembrar de ver aquilo a subir de repente, a bater no pára-brisas e a ficar preso e aberto sem se fechar... Que cena surreal mesmo, imagino o susto que eles não devem ter apanhado! Confesso que ainda tive ali alguns instantes de alguma apreensão, já que ficar repentinamente visibilidade nenhuma e o efeito surpresa de uma coisa daquelas poderiam perfeitamente provocado um acidente...

Felizmente nós até nem íamos muito depressa, a estrada era boa naquela zona e além disso era uma recta, pelo que o Nuno conseguiu muito rapidamente encostar-se à direita e parar de imediato. Nós parámos também imediatamente atrás deles e, a partir daí, foi um bocado reviver a série MacGyver, mas sem o canivete suíco... Como é que nós iríamos conseguir prender o capôt do carro, tendo em conta os poucos / nenhuns utensílios disponíveis? Valeram-nos os atacadores de umas botas que o nosso motorista habitual Walter Jorge tinha na mala do carro... Foi a nossa safa! A foto anterior ilustra bem o estado do carro com o capôt aberto numa altura em que a nossa velocidade devia rondar os 60 Km/h. Sempre dá para arejar um bocado o motor, não é?

Angola - Praia dos navios encalhados

Para chegar até à praia dos navios encalhados em si ainda faltava um bocado e era preciso apanhar um pequeno desvio nada parecido com uma estrada... Foi preciso descer ainda um bom bocado, desta vez num caminho quase deserto e continuando sempre num ritmo muito lento, para se começarem a avistar os primeiros navios. Que cena impressionante mesmo! Nem um, nem dois, nem três barquinhos... Navios enormes dispersos ao longo de vários quilómetros da linha costeira, a maior parte deles já num estado de conservação muito mau.

Angola - Praia dos navios encalhados

"Karl Marx"

Aquilo que inicialmente deve ter começado quando alguém se lembrou de abandonar um navio naquela praia, facilmente deve ter assumido o efeito bola de neve... O abandono de navios naquela praia foi-se sucedendo e chegou a um ponto tal que a praia se transformou num autêntico cemitério de navios encalhados abandonados, o que fez com que a praia se tornasse numa espécie de atracção turística devido à imponência e quantidade dos navios ali existentes.

Angola - Praia dos navios encalhados

A consequência mais directa de tudo isto é óbvia: perdeu-se uma praia com um areal enorme e com um grande potencial, já que a ferrugem e limalhas de ferro oriundas daqueles navios todos acaba por causar bastante poluição e inviabilizar a existência daquele mar azulinho típico de outras praias aqui existentes.

Angola - Praia dos navios encalhados

Apesar de ter gostado do passeio e da praia, acho que é um daqueles sítios para se ir uma vez e pronto. É chegar, ver e tirar as típicas fotos de recordação, marcar o pisco na lista de sítios a visitar e está feito. Não é de todo um daqueles sítios onde uma pessoa vai para relaxar a sério e passar um dia sem fazer nada, numa óptica de descanso puro, mas pelo menos acaba por ser um dia diferente daqueles que são habituais no fim de semana, que quase invariavelmente passam por se ir para a praia e passar o dia todo a alternar entre banhos de sol e de mar...

Angola - Praia dos navios encalhados

Depois de todas as fotos de grupo, faltava ainda cumprir outro objectivo: ir até à Barra do rio Dande. Já com a barriga a dar horas, subimos novamente aquele caminho deserto de terra e areia até chegar à estrada principal e continuámos em direcção a norte, percorrendo os poucos quilómetros a um ritmo de puro passeio.

Angola - Praia dos navios encalhados

Pelo meio ainda houve um pequeno susto, quando a polícia mandou parar o carro do Nuno... E digo um susto já que em Angola nunca se sabe muito bem o que poderá acontecer quando se é mandado parar pela polícia... Tanto pode correr tudo bem e ser apenas um controlo normalíssimo, como pode correr mal e apanhar na rifa uns polícias corruptos que vão tentar extorquir alguns kwanzas dando como justificação um motivo completamente absurdo. Continuei em frente e parei no final da recta à espera deles de forma a continuarmos viagem todos juntos e de certa forma precavendo alguma necessidade de eles eventualmente precisarem de alguma coisa.

Angola - Praia dos navios encalhados

Em cima: eu e o Nuno; em baixo: Ricardo, Hugo, Carina, Fernando, Pedro

Chegados à Barra do Dande por volta das duas da tarde, dirigimo-nos a um restaurante na tentativa de conseguir almoçar, mas batemos com o nariz na porta... Fechado! Decidimos no entanto estacionar mesmo sem almoçar e dar uma voltinha pela praia, acompanhada de um belo mergulho. Uma vez mais, também aqui a água não tinha aqueles tons azulados, embora por motivos completamente diferentes da praia dos navios encalhados. Não era de todo uma água poluída, mas mesmo assim a água era castanha devido à lama do rio Dande, que tinha ali a sua foz nas proximidades!

Angola - Barra do Dande

Depois do mergulhinho da praxe, fomos então procurar outro restaurante na zona para matar a fome. Fomos dar a uma espécie de resort com muito bom aspecto e por ali ficámos a almoçar em amena cavaqueira. O almoço, à base de peixe para todos, até estava bastante bom, seguindo-se depois as fotos em poses estranhas, a cantoria da música mais conhecida do Bocelli, as anedotas, as recordações das histórias mais engraçadas que já aconteceram... Resumindo e concluindo, foi um excelente sábado!

Almoço na Barra do Dande

Faltava era ainda o pesadelo: o regresso a Luanda naquela estrada horrorosa... No entanto, a viagem até acabou por se fazer muito bem na máquina chamada Hyundai Getz e apesar do trânsito, a viagem acabou por não demorar muito... Não foi uma viagem tão animada como a viagem de ida já que o cansaço associado à noitada e às três horas de sono da noite anterior começava a fazer-se sentir... No entanto, ainda teve os seus momentos de riso quando, a dada altura e devido a umas obras, dei por mim a fazer uma autêntica condução à angolana: tudo parado na estrada e eu a conduzir pela berma e a avançar mais rapidamente! Começo a ficar fã deste estilo...

Já mesmo a chegar à capital angolana, novo susto: virei bem à direita mas depois segui em frente em vez de virar à esquerda... Quando dei por mim estava numa zona perto do porto cheia de contentores, musseque, ruas muito manhosas e completamente desconhecidas... Não seria de todo agradável uma pessoa perder-se ali, ainda por cima de noite... Felizmente, depois de algum tempo, de uma chamada e de voltarmos para trás duas vezes, lá fomos dar ao caminho certo novamente e assim chegar sem mais problemas de maior a Luanda.

2 comentários:

Anónimo disse...

estive hoje, nessa praia, nesse lugar lindo carregado de magia ( esquecendo o lixo que se junta a praia) é de facto fantastico, a imagem daqueles monstros de ferro adormecedios pela mare...

Anónimo disse...

vc sao de mais as fotos sao uma beleza aqueles navios nao tem mais nada dentro nao e nande as fotos dos navios para mim
tinlet1@hotmail.com.br