domingo, 5 de julho de 2009

Alarvidade em Sangano

Começou cedo o sábado de manhã... Pode parecer estranho, já que tratando-se de um fim-de-semana, a malta normalmente quer é dormir até tarde... No entanto, o motivo é bastante simples e perfeitamente justificável: mais uma ida a Sangano!

É curioso que até à um mês e meio atrás, ainda só tinha ido a Sangano uma vez e, neste momento, já vou num total de quatro... Tal como já disse num post anterior, na globalidade prefiro claramente ir a Sangano do que ao Mussulo. Nesta altura do ano, em que é inverno no hemisfério sul e se está na época do cacimbo, talvez até fosse preferível ir ao Mussulo devido às suas águas paradas e consequentemente mais quentes do que as águas sempre mais agitadas da praia de Sangano, banhada pelo Oceano Atlântico... No entanto, e embora tenha gostado de todas as vezes em que fui ao Mussulo, Sangano continua a ser Sangano! A cada vez que vou lá, é só peripécias novas, cada uma melhor que a outra, tal como se vai perceber ao longo deste post...

Devido à dificuldade em perceber o caminho até à casa de Alvalade, a Sónia e o Pascoal vieram ter à casa do Trópico, local combinado onde o Oliveira e a Carina nos viriam buscar para seguirmos viagem. Um pouco depois da hora inicialmente combinada para as 8h30, lá demos então início à viagem em que, além da sempre complicada saída de Luanda devido ao trânsito infernal desta cidade, a maior preocupação era mesmo o céu um bocado encoberto que teimava em não deixar aparecer o sol...

À saída de Luanda, ainda parámos num semáforo que ficava junto a um posto de controlo militar que tinha como slogan "Pela defesa da Pátria. Pronto!" e que acabou por ser o primeiro momento de risota geral. Já tinha reparado naquela mensagem antes mas, a cada vez que passo ali, interrogo-me sobre qual terá sido a ideia do seu autor... Tenho pena de não ter tirado uma foto à entrada do posto militar, mas como tudo o que diga respeito a estes locais é levado muito a sério, o melhor mesmo é nem sequer tentar... Mas aquele pronto! é mesmo muito estranho e dá a entender que não sabiam muito bem o que mais escrever ali... Pronto!

Venda de Quadros - Mercado de Benfica

Alguns quilómetros mais à frente, paragem no Mercado de Benfica. Foi a segunda vez que fui a este mercado e, além de ser uma experiência engraçada proporcionada pelo convívio mais próximo com os vendedores locais, também dá para negociar a compra de todas as peças expostas e ficar com algumas recordações a mais baixo custo. Depois de uma volta pelo mercado e já sem as mãos a abanar depois de algumas compras feitas, foi a vez de dar uns palpites para ajudar o Oliveira na escolha de um quadro pintado a óleo. Devo dizer que, face à enorme quantidade de quadros expostos, a escolha acabou por ser bastante fácil… Por muito estranho que possa parecer, já que conciliar os gostos de cinco pessoas diferentes não é propriamente fácil, a escolha relativamente ao quadro foi unânime. Excelente compra jovem!

Mercado de Benfica

Uma vez feitas todas as compras no mercado, partimos então de vez em direcção a Sangano e, numa das várias longas rectas, surge outras daquelas grandes peripécias absolutamente típicas da condução realizada pelos angolanos. Começamos a ver um jipe em sentido contrário e a uma velocidade já considerável a fazer uma série de ultrapassagens seguidas a vários camiões e carros e a primeira reacção foi abrandar para dar tempo ao condutor de terminar a ultrapassagem com segurança… Para nosso espanto, o condutor do jipe não só não abranda, como também não se encosta para a sua faixa e ainda por cima se mete a fazer sinais de luzes de forma continuada como quem diz “Facilita aí a passagem!” ou então “Desvia-te tu que eu vinha aqui primeiro, ya!”. Esta malta a conduzir é mesmo completamente doida, não avalia sequer os riscos que corre! Além de abrandarmos termos reduzido consideravelmente a velocidade, ainda nos desviámos para a berma da estrada para não correr riscos desnecessários.

O resto da viagem decorreu com relativa tranquilidade e era quase meio-dia quando finalmente chegámos à praia de Sangano. A praia, por si só, já é bastante deserta mas nesta altura do ano tem ainda menos gente devido ao “frio”. É engraçado ver como as pessoas angolanas evitam a praia nesta altura do ano e nós continuamos a ir. No entanto, e nisso sou forçado a concordar, nota-se uma ligeira brisa, o calor não é o mesmo de alguns meses atrás e a água está consideravelmente mais fria também.

Ao chegar, fomos quase de imediato ao restaurante O Pirata tratar do pedido para o almoço. Assim, enquanto o almoço é preparado, sempre dá para ir um bocadinho até à praia enquanto se espera. Nenhum de nós era propriamente novato em idas a Sangano e em almoços naquele restaurante, portanto toda a gente estava perfeitamente consciente de que é um restaurante em que se come bastante bem e onde a lagosta é óptima. Como tal, a escolha natural recaiu na lagosta.

Ao efectuar o pedido, o simpático empregado Vasquinho referiu-nos que não tinha lagostas para grelhar e que ainda estavam à espera da chegada dos pescadores e do que eles tivessem conseguido pescar… Ora bolas! Então vamos a Sangano, sempre debaixo de um tempo encoberto e depois ainda por cima não tinham a especialidade do sítio? Isso seria tudo a correr mal! No entanto, e depois de ter ido falar com a dona do restaurante, lá apareceu o Vasquinho com a boa notícia de que afinal podíamos pedir lagosta. Ora bem, como entrada, pediu-se uma dose de lagosta ao alho e outra dose de lagosta panada. Para prato principal, dado que seria almoço para cinco pessoas, toca de pedir cinco lagostas à Pirata… Naturalmente, faz todo o sentido!

Passeio pela praia de Sangano

Fomos estender as toalhas e apanhar um pouco de sol, que timidamente estava a tentar aparecer por entre as nuvens. Pelo meio, o Oliveira ainda foi de forma decidida e destemida mandar um mergulho, enquanto para todos os outros a entrada na água foi um bocadinho mais complicada… É que uma pessoa habitua-se a água quentinha e depois quando encontra água mais fria é um castigo… Decididamente, não quero voltar a ir à praia em Portugal tão cedo! Depois de uns mergulhos e de uma valente soneca ao sol, lá apareceu um empregado do restaurante a avisar que as entradas estavam a sair.

Como é hábito, a lagosta ao alho e a lagosta panada estavam bastante boas e, acompanhadas com pão, melhor ainda tudo se tornava. Quando acabámos de comer as entradas, não só a fome inicial tinha já desaparecido, como também já nos começávamos a sentir cheios… Entretanto, começa o empregado Vasquinho a trazer as lagostas à Pirata em tachos, cada um deles com duas lagostas… Depois de ele trazer dois tachos, começa-se a malta a questionar relativamente ao número de lagostas que ainda faltavam relativamente ao pedido… Pois é, uma lagosta à Pirata é na verdade uma dose, dose essa que traz efectivamente duas lagostas… Fazendo umas contas de cabeça simples, ainda faltavam três doses, ou seja, mais seis lagostas… Isto para quem logo a seguir às entradas estava a dizer que se estava a sentir cheio, não é nada mau… “Ó Vasquinho, traz mais lagostas por favor!...” foi a grande deixa do Pascoal, que após alguma apreensão, gerou uma risota descomunal… Continuando a fazer contas de cabeça, devem ter sido no total umas quinze lagostas, o que dá uma média de três por pessoa… Que grande alarvidade! Como foi possível ninguém se ter apercebido da dimensão do pedido em tempo útil não sei, mas pelo menos deu para encher a barriga de lagosta e para ter uma história gira para contar!

Sangano - Sónia e Daniel

Depois de comer tanta lagosta, pagando o mesmo que por um hambúrguer no Mussulo, era imperativo não ficar parado e dar uma volta a pé para ajudar a fazer a digestão. Com toda a gente a sentir-se bastante empanturrada e depois de comer lagosta de uma forma absolutamente descomunal, fomos então dar a tal voltinha para o lado norte da praia, depois para o lado sul, até que nos cruzámos com um pescador que nos fez uma pergunta bastante simples mas que originou nova risota geral: “Querem lagosta?”. Por favor, mais lagosta depois de um almoço daqueles seria uma tortura absoluta! Com um almoço daqueles, lagosta era coisa que ninguém queria ver à frente durante os próximos tempos… Foi engraçado o facto de nós irmos a falar precisamente disso e logo de seguida ter aparecido alguém com uma pergunta daquelas. Respondemos educadamente que não queríamos mas, de qualquer forma, acabei por ficar com um bocadinho de pena do senhor, já que aquela risota geral até poderia ter parecido um bocado ofensiva… Mas também depois de um almoço daqueles, que outra coisa seria de esperar!?

Sangano - Pascoal e Oliveira

Retornando ao ponto de partida após a agradável caminhada, que acabou por ter o efeito desejado, as toalhas estavam demasiado apetecíveis, pelo que foi completamente impossível conseguir resistir-lhes e dormir uma bela soneca… De todo o tempo que eu consegui manter-me acordado, acho que só a Sónia é que resistiu ao sono, dedicando-se à leitura.

Ao acordar e depois de algum tempo na conversa, começou a chegar a hora do pôr-do-sol, aquele pôr-do-sol sobre o oceano e que é espectacularmente bonito, por mais fotos que se tirem e independentemente do facto de muitas delas acabarem por ser parecidas… Não é completamente à toa que uma grande parte das fotos, quer tenham sido tiradas por mim ou por outras pessoas, têm como pano de fundo esta altura do dia…

Foi nesta fase do dia que surgiu outro daqueles momentos de chacota geral quando, ao fotografar a Carina tendo o pôr-do-sol como fundo, ela se vira e diz “Como é que eu vou agarrá-lo?” Usando uma expressão tipicamente angolana, assim Fica complicado! Ahh, o que ela queria mesmo era agarrar o sol na fotografia… Assim tudo faz sentido, já que momentos antes estava literalmente embrulhada numa toalha para se proteger da brisa marítima que causava um ligeiro desconforto. Agarrando o sol já não seria preciso a toalha! :) Mas estes trocadilhos são de facto terríveis… Basta uma expressão mal medida, uma palavra que seja, e o sentido inicialmente pretendido é logo completamente adulterado!

Sangano - Carina com frio

Tempo ainda para inventar umas novas fotos engraçadas, em que eu e a Sónia fomos escrever os nossos nomes na areia molhada. O efeito até ficou giro e sempre acabam por ser umas fotos um bocado diferentes daquilo que costuma ser o mais normal.

Sangano - Nome na areia

Infelizmente, estava-se a aproximar a hora de ir embora. Aproveitámos bem o dia, já que saímos de Sangano já tarde, praticamente de noite. Mas vendo bem, nem era assim tão tarde quanto isso, já que anoitece bastante cedo. Estávamos nós a caminho de Luanda, até que numa determinada altura encaramos com um camião seguido por um carro de bastante perto… Este facto levou o Oliveira a soltar uma exclamação bastante apropriada para a situação: “O gajo vai cheirar o cu ao camião de uma maneira!...”. De facto, conduzir de uma forma tão próxima de um camião é coisa que não é propriamente aconselhável, especialmente em Angola onde é necessário estar a 200% à espera do inesperado para se conseguir reagir em tempo útil. Continuando a circular atrás dos dois veículos e apercebendo-me de alguns sinais de luzes feitos pelo camião, foi a minha vez de soltar uma expressão: “O gajo do camião até está a ser fixe… Fez sinais de luzes para não ultrapassar!”. Estando nós numa zona com algumas curvas e com estrada mal iluminada a dificultar uma eventual ultrapassagem, lá continuámos nós a segui-los, até que foi a vez de a Sónia mandar a sua deixa: “Está com os sinais de emergência ligados…”. Estava um bocado complicado ultrapassar, até que finalmente lá se conseguiu e nos permitiu por fim a tanta especulação gerada à volta do tema. O carro estava a ser rebocado pelo camião…

Pôr do sol em Sangano - Daniel

Para finalizar, devo dizer que, contrariamente a alguns carros em que já andei em Angola, o nosso carro tinha uns faróis extraordinários! E não estou a dizer isto com ironia, já que aqueles faróis iluminavam de facto muito bem… Iluminavam a estrada tão bem que, mesmo circulando em médios, qualquer carro que se cruzasse connosco nos fazia sinais de luzes para baixar os faróis… Aquilo sim, era um carro em que os médios pareciam máximos e os máximos pareciam luzes espaciais a apontar para o céu!

Chegados finalmente a Luanda novamente, não sei antes termos sido mais uma vez vítimas de um trânsito infernal, fomos deixar a Sónia e o Pascoal à casa de Alvalade, que afinal de contas nem é assim tão complicado dar com ela… Chegar lá com recurso apenas a explicações é complicado, mas depois de ter ido lá uma vez até se torna relativamente fácil… Depois disso, foi a minha vez de ser deixado em casa, não sem antes se ter combinado uma jantarada pelo Palm Beach… Mas sem lagosta!

Sangano - Pôr do sol

2 comentários:

Rui Pascoal disse...

Com tanta lagosta junta… não sei se me abriram o apetite, ou, se pelo contrário…
A água do mar está fria? Esperem cá pela nossa...
Aproveitem já que “esses tempos” não voltam mais.

Unknown disse...

Pior que as 15 lagostas que foram ingeridas quase na totalidade(valeu-nos a caixinha do take ayway...:)) foi aquele "mau cálculo" relativo às batatas fritas...é que sobrou uma travessa inteira!!! Que desperdício :)

Pessoal...ainda vão ter saudades deste dia...e ao passearem à beira mar nas praias tugas de água gélida, ainda vão desejar que alguém se cruze com vocês e pergunte "Querem uma lagosta?" :)