segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Home sweet home

Home sweet home: o pesadelo finalmente terminou! Com uma semana de atraso é certo, mas estou de volta a Portugal e este post já foi publicado a partir de terras de Camões.

Foi uma semana verdadeiramente desesperante, em que deveria estar de férias, mas em que acabei por continuar a trabalhar em Angola para não ficar sozinho em casa a deprimir fortemente! Depois de todos os esforços para tentar recuperar o passaporte, de todos os contactos diários e frequentes com o escritório de Luanda no sentido de tentar perceber o que se passava, depois de adiar a viagem de regresso a Portugal a cada dia que passava, depois de desistir provisoriamente da via diplomática e do Consulado Português, estava-me a começar a sentir completamente derrotado e impotente para resolver a situação, sem qualquer perspectiva de solução à vista…

Ao receber o telefonema do partner do escritório de Luanda ao final da tarde de quinta-feira, a minha posição não melhorou muito e ainda por cima fiquei com um grande dilema pela frente que só eu poderia decidir. Garantiam-lhe a pés juntos que o passaporte tinha a prorrogação do visto já aprovada e que estava em cima da mesa do director da Direcção de Estrangeiros e Fronteiras de Angola, mas que tinha morrido alguém importante e como tal o director andava ausente… No entanto, o que me deixou verdadeiramente preocupado foi o facto de já se ter oferecido o que fosse preciso para acelerar o processo de libertação do passaporte e, mesmo estando o passaporte pronto para entrega, isso estava a demorar demasiado tempo a acontecer…

Se quem nunca foi a Angola sabe perfeitamente que tudo naquele país vive à base de interesses, cunhas, corrupção e subornos, não é difícil a quem já tenha ido lá pelo menos uma vez confirmar isso, já que, de uma ou outra forma, já se viveu isso na pele… Ninguém é multado porque um carro ligeiro normal não tem extintor, porque falta uma porca a apertar uma das rodas ou porque se virou à esquerda num sítio sem proibição mas com o sinal existente a mais de um quilómetro de distância… Contudo, este “ninguém” tem uma condição em falta: ninguém, excepto se o país for Angola, onde reina o caos e a desorganização…

Considerando que se trata de Angola, que o passaporte estava aparentemente pronto e que já se tinha chegado ao ponto de oferecer o que fosse preciso para que o caso se tornasse prioritário, como é que o passaporte não saía? Para mim a explicação para esta conjugação de factores era simples: tinham perdido o passaporte e tardavam em admitir isso…E para piorar ainda mais a situação, pode-se acrescentar ainda o facto de ninguém do escritório saber onde parava o recibo que comprovasse o pedido de prorrogação do visto… Estar num país que não é o nosso e com a logística manifestamente problemática que toda a gente conhece nesta situação de ilegalidade é o pânico!

E portanto o meu dilema era muito simples: ir ao Consulado Português novamente na sexta-feira de manhã ou aguardar mais um dia por novidades do passaporte. Escolher a primeira opção implicaria engolir um bocado de orgulho e dar o braço a torcer, voltar lá com muita paciência e assumir definitivamente a perda do passaporte… Isto faria com que o passaporte fosse anulado e, mesmo no caso de entretanto aparecer, teria sempre de ficar à espera do salvo conduto do Consulado para poder viajar e sair de Angola… O cúmulo dos azares seria mesmo escolher esta opção e o passaporte sair nesse dia… Mal por mal e já que estava naquela situação à vários dias, optei por esperar mais um dia por novidades do passaporte e decidi ir ao Consulado apenas na segunda-feira…

Quando recebo dois telefonemas seguidos a informarem-me que, caso alguém fosse à DEFA rapidamente com o meu bilhete de viagem, a situação se iria resolver no próprio dia, já que aquilo funcionaria como prova de que ia abandonar o país naquele dia caso tivesse o passaporte na mão, nem perdi tempo a cumprir o pedido… E quando recebo outro telefonema a meio da tarde a informar que o passaporte já estava a caminho do escritório de Luanda, quase nem conseguia acreditar!

Mas, depois de tantos problemas, só quando tivesse o passaporte e dependendo da hora a que ele me chegasse às mãos é que ia ter a certeza absoluta que ia de facto viajar sexta-feira. Quando o motorista António apareceu com o passaporte, deve ter sido um dos maiores momentos de felicidade da semana! Fui imediatamente para casa acabar de arrumar a mala e ir a toda a velocidade para o aeroporto 4 de Fevereiro. Dado que apenas recebi o passaporte por volta das 18h, já não consegui fazer o check-in online e seguiu-se uma espera de tortura na longa fila que já existia para o voo da TAP com destino a Lisboa…

Cheguei ao aeroporto pouco passava das 19h e, cerca de uma hora depois, ainda nem sequer tinha passado o primeiro local de controlo… Após passar esse local e até ter feito o check-in e despachado a bagagem de porão, seguiu-se outra hora de fila desesperante em que nada parecia avançar! Quando finalmente chego à zona de controlo de passaportes, ainda tive meia hora à espera e deu para apanhar um susto, já que demorei consideravelmente mais tempo que as restantes pessoas no controlo: passaporte folheado várias vezes de uma ponta à outra mas sem que nada pudessem fazer, já que o visto tinha validade até dia 20 de Agosto…

Faltavam ainda duas filas até chegar finalmente à zona de embarque: a de controlo da bagagem de mão e a da alfândega. A primeira destas duas era inevitável e não tive outro remédio senão esperar mais um bocado; a segunda, foi completamente ignorada… Já não tinha paciência para mais uma fila e decidi começar a falar ao telemóvel e passar em frente ao posto alfandegário com um olhar alheado do mundo para ver se não me chateavam para ir lá dizer que não tinha kwanzas comigo, apenas euros e dólares… Obviamente, não poder sair do país sem kwanzas é uma treta, já que é extremamente fácil e acho que nunca cumpri essa regra…Após tanta espera, fui finalmente encaminhado para o avião e confesso que por os pés no primeiro degrau das escadas que me levavam ao avião da TAP foi um alívio tremendo! E, cansado como estava, nem sequer dei conta do avião descolar de território angolano e adormeci ainda com o avião na pista.

Chegar a Portugal foi um autêntico descanso para mim, a libertação de uma semana inteira de stress… Nem no final daquela longa de estadia de 9 semanas de trabalho intenso tinha tanta vontade de regressar como agora! Abençoada pátria de Camões, que tardava em recuperar um dos seus cidadãos… Quando finalmente pisei a pista do aeroporto da Portela, a minha vontade era dar um grito de alegria enorme, mas acabei por me consegui conter, apesar da alegria que devia trazer espelhada no rosto!

Aproveito ainda para agradecer a todos os que ajudaram no sentido de ganhar esta "luta", bem como a todos os que se preocuparam com o tema, me apoiaram e deram força para não me ir abaixo! Muito obrigado!

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