sábado, 15 de agosto de 2009

Poste travesso

Já lá vai um pouco distante, mas o ano de 1998 é um daqueles anos que me traz algumas recordações: ano em que se definiram os países pertencentes à zona Euro, ano de criação da empresa Google, ano em que é lançado o Windows 98, ano de Expo em Portugal, ano de Prémio Nobel da Literatura para José Saramago, ano em que a França se sagra campeã do mundo de futebol...

À semelhança de férias anteriores, o meu desporto de eleição nas férias do verão era o ciclismo e tinha imensos quilómetros percorridos de bicicleta pelas redondezas da pacata cidade alpina onde vivem os meus pais. Estando situada mesmo no coração do vale entre as imensas montanhas da zona, Môutiers era a cidade de partida para cada passeio até às estâncias de ski dispersaspelas várias aldeias de montanha: Courchevel, Meribel, Valmorel, Menuires, Val Thorens, La Plagne são vários exemplos disso, chegando ao ponto de percorrer cerca de 60/70 quilómetros diários!

E de todos os dias deste ano que já lá vai um pouco distante, o 15 de Agosto é para mim um dia de más recordações e do qual não me esqueço com grande facilidade... Apesar de ser um feriado, o meu pai saiu cedo para ajudar um casal amigo nas tarefas de reconstrução de uma casa que tinham comprado recentemente e eu, aproveitando a frescura matinal, decidi também sair cedo para dar mais uma voltinha de bicicleta e percorrer a meia dúzia de quilómetros para ir ter com ele... Maldita ideia a minha, mais valia ter ficado a dormir!

Quando cheguei à cave onde guardava a bicicleta, rapidamente detectei que tinha o pneu de trás um pouco vazio... Desconfiando de um furo e com preguiça de verificar o que se passava, acabei por deixar ficar a minha BTT encostada no mesmo sítio e sair com a bicicleta de ciclismo do meu pai... Em pouco menos de meia hora cheguei ao destino e, pouco contente com isso e para não me aborrecer muito, decidi continuar a minha voltinha... Após uma acentuada descida de alguns metros, curva apertada à esquerda, contra-curva apertada à direita, velocidade a mais, bicicleta à qual eu não estava habituado, rodas fininhas, obstáculos existentes na estrada, ser ofuscado pelo sol: conjuntura perfeita!...

Só dei conta de passar sobre uma pedra, perder o controlo da bicicleta e, azar dos azares, onde é que eu fui parar? O título do post deixa adivinhar, não deixa? Precisamente contra um poste de electricidade existente na berma e assente sobre uma base de granito: poste travesso... Cada vez que me lembro do estado em que fiquei, bem como do estado em que a própria bicicleta ficou, até me arrepio! Saindo com algum custo da bicicleta e sentindo uma dor forte na cabeça, a reacção instantânea foi levar a mão à cabeça e sentir de imediato sangue... Ops!... Felizmente estava ainda pertíssimo da casa dos amigos dos meus pais e caminhei para lá: lembro-me perfeitamente da reacção da Inês quando me viu chegar naquele estado, desatando de imediato aos gritos a chamar pelo meu pai e a tentar estancar a hemorragia com um pano húmido...

E a cara do médico que me recebeu nas urgências do hospital? Medo, o homem até levou as mãos à cabeça! Já com a ferida controlada, estive à vontade meia hora deitado numa maca a responder a um monte de perguntas que o médico e as enfermeiras insistiram em fazer-me para confirmarem que não tinha nenhum problema de amnésia resultante da pancada... Amnésia nem vê-la, mas se calhar foi por causa disto que eu fiquei um bocado maluco :) (antecipo já a possível boca...)! Depois de uma manhã no hospital, o resultado foi nada mais nada menos que 14 pontos na testa, 3 na sobrancelha e 1 no canto do olho esquerdo, acrescentando ainda um pequeno "massacre" no ombro esquerdo que acabaria por resultar numa infecção ligeira uns dias mais tarde...

Já depois de sair das urgências do hospital e passando pelo local onde estava a bicicleta, até me deixei rir... A bicicleta estava mais que pronta para ir para a sucata: o pneu da frente rebentou, a jante ficou oval, os travões da frente partiram, o pequeno farol que tinha à frente desapareceu, o garfo amolgou todo para trás ao ponto de a roda encostar no quadro, o quadro torceu e ficou com um vinco bem notório... Devagarinho é que eu não ia de certeza!

A reacção a quente a isto tudo foi a de nunca mais andar de bicicleta, decisão essa que evoluiu depois para "bicicleta sim, mas sempre com capacete" e para "nunca mais andar numa bicicleta de ciclismo". Onze anos depois, o trauma da bicicleta está obviamente mais que ultrapassado, mas continuo a olhar com muita desconfiança para as bicicletas de ciclismo e, mesmo continuando a gostar de dar uma voltinha de bicicleta e de sentir a adrenalina relativa às descidas mais acentuadas, tenho muito mais cuidado com os exageros cometidos!

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