quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Farrapos Dispersos

Encontro-me sem nada que fazer, farto de uma viagem que ainda agora passou o meio, dentro de um autocarro que circula no troço que liga as cidades de Viseu e Guarda, em plena A25. Já fiz de tudo um pouco nesta viagem: já li o jornal, já bati uma boa soneca e agora que acordei e não tenho sono, decidi escrever um post sobre um tema que já referi antes: a origem do nome do blog. Sei perfeitamente que este texto não vai ser publicado antes de domingo à noite mas, tendo em conta o tema que aborda, trata-se de um post intemporal e esta introdução apenas serviu para contextualizar o momento.

Farrapos dispersos... Perguntam vocês como é que eu me fui lembrar de um nome destes, não é? Curiosamente, foi das decisões mais fáceis de tomar no que ao blog diz respeito. Mesmo quando eu ainda nem sonhava que um dia me ia lembrar de escrever um blog, já sabia que se esse dia chegasse o seu nome teria que ser algo deste género.

Não tenho sequer a certeza se farrapo é uma palavra da Língua Portuguesa. Fiz uma pesquisa ultra-rápida no Google e num dicionário online antes de criar o blog e o que é certo é que não encontrei resposta. Quando tiver mais tempo, procuro melhor. Contudo, isso não me desmotivou no que à escolha do título diz respeito. É bastante provável que seja um regionalismo do Interior, o que me deixa ainda mais satisfeito se tal suceder. Portanto, e para quem não faz a menor ideia do significado da palavra, a minha definição de farrapo é a seguinte: pequeno pedaço de tecido, geralmente resultante de sobras no fabrico de têxteis e que, na sua condição de tecido único, não serve para mais nada.

Intrigados? Agora que esta palavra esquisita está contextualizada, torna-se mais fácil explicar. A minha aldeia natal é uma pequena aldeia do concelho da Covilhã, que em tempos já algo distantes, era famosa precisamente pelo comércio de... farrapos! Por este motivo, ficou conhecida na época como a terra dos farrapeiros. Farrapeiro, como devem calcular, é a designação atribuída a uma pessoa que se dedica ao comércio de farrapos. E para quê comercializar estes pedaços insignificantes de tecido, que não servem para nada? É com alguma segurança que posso afirmar que a minha aldeia terá sido das primeiras em Portugal a compreender o conceito de reciclagem. É verdade que um farrapo não serve para nada, dois também não, dez também não, mas e se forem centenas ou milhares deles? Em vez de se destruirem estes farrapos queimando-os, estes podem servir para criar novos tecidos, aproveitando assim aquilo que parecia ser completamente inútil.

Portanto, aproveitando este argumento como metáfora, eu próprio direi que cada post deste blog, cada bocadinho da minha vida e cada farrapinho podem não significar muito ou até mesmo nada de especial... Mas reunidos, estes posts, estes bocadinhos soltos da minha vida, este conjunto de farrapinhos soltos, representam o meu ser, a minha existência, a minha vida.

Publicada por Daniel | offline: 2007-09-13 | 18h20

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