terça-feira, 11 de novembro de 2008

Primeiro dia em Luanda

Depois da saída do aeroporto, deu-se o primeiro contacto a sério com Luanda. Cerca de 200 metros a caminhar até chegar ao carro que nos ia transportar, sempre colado ao resto do pessoal... O primeiro impacto é, sem dúvida, nada agradável...

O aeroporto fica nos subúrbios da cidade, numa zona muito pobre, e portanto acaba por ser bastante chocante ver logo uma imensa quantidade de pessoas à espera dos passageiros dos voos na esperança de conseguir alguma coisa...

E depois, é ainda necessário contar com a ira de alguns habitantes que, talvez naturalmente e em sequência daquilo que eu falei no post "Petrokuanzas", sentem que estão a ser roubados pelos que vêm para cá trabalhar... Acaba por ser um misto das duas coisas talvez: é verdade que os estrangeiros que vêm para cá trabalhar vêm ganhar dinheiro que é obtido com os recursos angolanos mas, por sua vez, os angolanos também ainda não têm a capacidade e conhecimento que necessitam para se continuarem a desenvolver rapidamente... Eu acho que acaba por ser uma balança equilibrada... Apenas referi a ira dos locais face aos estrangeiros devido a uma situação que presenciei logo à saída do aeroporto: atrás de mim, vinham mais algumas pessoas da empresa, uma delas já com um angolano literalmente atrelado a pedir dinheiro... E quando a pessoa que seguia connosco se apercebeu disso e foi lá resolver o problema, imediatamente o angolano começou a barafustar coisas como "Vêm pra cá e até diamante levam nos dentes quando vão embora, mas não dão nada ao preto!!!"

Mas quanto à pobreza, dá de facto para uma pessoa reflectir bastante: para quem, como eu, já viu no Porto e em Lisboa algumas situações de pobreza e condições nada dignas daquelas que idealmente deveriam ser as consideradas mínimas para qualquer ser humano, bem pode esquecer isso, porque isso não é nada ao fazer a comparação... Aqui, pelo pouco que eu já vi, pode multiplicar-se isso por um número com vários zeros à direita... Aliás, talvez nem se possa comparar sequer...

A viagem do aeroporto até ao hotel foi longa... Não por ser longe, mas devido ao imenso trânsito que se fazia sentir... O IC19, a 2ª circular, a VCI, a Boavista, etc. passam a ser autênticos paraísos do trânsito! Imagine-se uma cidade com a dimensão de Lisboa, por exemplo, onde ninguém respeita sinais e regras de trânsito, onde cada um faz o que bem lhe apetece sem se preocupar muito com os outros, onde as faixas em sentido contrário se transformam em faixas em sentido a nosso favor (se é que se pode falar em faixas), gajos a ultrapassar pela esquerda, pela direita, enfim, é uma autêntica aventura andar de carro!

Durante a viagem, onde existiram dois estados possíveis, parados no trânsito ou a ziguezaguear por entre carros, deu para ver um pouco de tudo: desde casas novinhas até simples barracas, pessoas a dormir pelas ruas, prédios com vários andares inacabados à largos anos completamente habitados, prédios e casas ainda com marcas bem visíveis da guerra em que Angola esteve mergulhada durante anos a fio, carros todos podres a circular... Mas o que mais surpreende é a quantidade de pessoas que se encontram pelas ruas, no meio do trânsito a vender coisas, desde pastilhas, fruta, peças de vestuário, plantas, aparelhos electrodomésticos... Acho que deve ser possível comprar de tudo sem sair do carro, deve bastar procurar no sítio certo!

Chegados ao Hotel Trópico, lá vou eu e o Ricardo fazer check-in na recepção... Estava a correr tudo de uma forma perfeita, até que a surpresa chegou... Ele faz check-in sem problema nenhum mas, quando chegou a minha vez, bati na trave, ou seja, nada feito! Houve um engano com a minha reserva e supostamente eu devia ter entrado no dia 8... Como não entrei, cancelaram a minha reserva 24 horas depois, o que quer dizer que não tinham quarto para mim porque supostamente estavam cheios... Toca de ligar para a senhora responsável pela logística dos alojamentos em Luanda e, depois de algumas chamadas recebidas e efectuadas que me devem ter levado uma boa parte do saldo do telemóvel e depois de cerca de 2h30 a secar na recepção do Hotel, lá consegui finalmente um quarto! Com isto tudo, acabei por não descansar nada de manhã, já que foi tomar um banho, vestir um fato e ir praticamente de directa para o trabalho... Acho que já vai sendo tempo de começarem a dar o dia à malta pra descansar, porque assim acabar por não ser nada produtivo... E também acho que já vai sendo tempo de deixar de obrigar os homens a andarem de fato e gravata (pelo menos a gravata, que asfixia completamente uma pessoa), especialmente em Angola...

Fui almoçar com o Ricardo a um restaurante perto do trabalho e lá fomos nós completamente partidos para o trabalho... Verdade seja dita, não se fez grande coisa... Deu para reencontrar algumas pessoas com quem ja tinha estado, deu para conhecer outras pessoas novas no projecto e também os trabalhadores da empresa, deu ainda para falar de algumas pontas soltas do projecto e pouco mais que isso... Vim para o hotel, tomei banho, vesti uma roupa casual e ala para casa do Godinho, para depois ir jantar... Embora estivesse cansado, acabei por aceitar o desafio de ir jantar com eles a um restaurante na Fortaleza de Luanda: um sítio muito fixe, com uma vista engraçada para a baía de Luanda e onde se come um bife com pimenta muito bom e a um preço acessível em Angola: 3400 kuanzas, o que tendo em conta a qualidade da refeição não foi nada mau.

E pronto, assim se passou o primeiro dia... O resto do pessoal ainda se foi enfiar em duas festas, mas eu acabei por pedir a um deles que ligásse a um motorista para me ir buscar, já que estava cansado e estava mesmo a ver que aquilo ia dar para o tarde... O kizomba fica para uma próxima oportunidade!

Ainda deu para escrever um post quando cheguei ao hotel, testar a internet do hotel, que afinal nem é tal má quanto isso... Se calhar começo a ficar com alguma pena de não ficar aqui a estadia toda e ter de sair daqui já dia 19 de Novembro... Ainda não tive tempo para tirar fotografias decentes, mas deixo-vos a vista que tenho da janela do meu quarto, os famosos Toyota Hiace azuis que servem de táxi e, já agora, o meu quarto também :)

2 comentários:

Anónimo disse...

Primo Daniel,

tanta coisa familiar!
Espero que continues a contar a tua experiência. Vais ver que se torna um vício, quando se está num sítio tão completamente diferente, contar tudo o que acontece.

Repito os votos do telefonema antes da partida: espero que corra tudo bem. Os choques culturais são inevitáveis... mas, no geral, as experiências valem a pena.

Estou ansiosa por partir para a minha missão!

Beijinhos,

Xana, 1020

Felipe Costa disse...

Boa sorte com o projecto e o passeio por ai...

Abraco,
Felipe aka Ziu